O enquadramento biopolítico de pessoas empobrecidas: entre o governo dos corpos e a biopotência de modos de vida na imagem

Autores

  • Angela Cristina Salgueiro Marques Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.29146/eco-pos.v21i2.10307

Resumo

Neste artigo, argumento, junto com Fassin e Butler, que existe uma modalidade particular de governo dos corpos coletivos: o enquadramento biopolítico de sujeitos e grupos empobrecidos no contexto da implementação de políticas sociais. De modo mais específico, recorro a imagens institucionais de beneficiários do Programa Bolsa Família (encontradas no site do Ministério do Desenvolvimento Social) para mostrar como o governo biopolítico dos corpos coletivos envolve a produção de narrativas, argumentos e enunciados que passam a traçar distinções entre modos de vida considerados dignos e aqueles amplamente percebidos como menosprezáveis. O enquadramento biopolítico é uma técnica de governo ou de governamentalidade que formata as cenas de aparência, preparando-as para definir sujeitos e grupos exemplares, considerados como parâmetro, cujo projeto e modo de vida é tido como antítese do desvio e de existências moralmente julgadas como indignas de consideração e apreciação.

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Biografia do Autor

Angela Cristina Salgueiro Marques, Universidade Federal de Minas Gerais

Professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG (graduação e pós-graduação).

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Publicado

20-09-2018

Como Citar

Salgueiro Marques, A. C. (2018). O enquadramento biopolítico de pessoas empobrecidas: entre o governo dos corpos e a biopotência de modos de vida na imagem. Revista Eco-Pós, 21(2), 460–485. https://doi.org/10.29146/eco-pos.v21i2.10307

Edição

Seção

Perspectivas