Mestre de cerimônias - Parte 2
DOI:
https://doi.org/10.29146/eco-pos.v19i3.5426Resumo
Ao editar o dossieÌ‚ “Cultura Pop” na revista Eco-PoÌs e diante da seção PortfoÌ- lio, resolvi convidar a artista BaÌrbara Wagner para compartilhar suas foto- grafias da seÌrie “Mestres de CerimoÌ‚nia” com um duplo propoÌsito: sublinhar
a corporalidade da muÌsica brega de Pernambuco, a partir do que podemos chamar de “corpo perifeÌrico pop” e tambeÌm pensar um certo olhar pop, ultra-esteÌtico, da pose e dos processos de celebrificação a partir dos regis- tros da artista. Este duplo movimento que o trabalho de BaÌrbara Wagner traduz parece evidenciar formas culturais que ignoram centros e margens, epicentros e periferias. O que os MCs do brega parecem fazer eÌ tornar visiÌvel a linha turva entre a fabulação pop e a rasura do corpo subalterno. Os limites pouco definidos entre o documento e a ficção. Ou as ficções que habitam os corpos e suas performances.
Onde estão hegemonia e contra-hegemonia? No campo da cultura -- do brega, do funk -- elas estão em movimento. “A ideia de cultura vai permitir aÌ€ burguesia cindir a histoÌria e as praÌticas sociais -- moderno/atrasado, nobre/ vulgar” (MARTIÌN-BARBERO, 2003, p. 146) Numa leitura de Hobsbawn es- miuçando ainda mais a luta de classes, MartiÌn-Barbero questiona a razão instrumental e excludente que haÌ em negar matrizes culturais não-domi- nantes. A partir de então, questões como “beleza”, “feiuÌra”, “estranhamento” são acionadas como formas de afastamento de expressões culturais de um certo caÌ‚none. Em seu “ExerciÌcios do Ver” (2001), MartiÌn-Barbero eÌ ainda mais incisivo em pensar esteÌticas hegemoÌ‚nicas no campo do audiovisual e o caraÌter elitista e excludente que constroem certas ideias em torno da fuga da norma. “Confundindo iletrado com inculto, as elites ilustradas, desde
o seÌculo XVIII, ao tempo que afirmavam o povo na poliÌtica, o negavam na cultura, fazendo da incultura o traço intriÌnseco que configurava a identidade dos setores populares e o insulto com que tapavam sua interessada incapa- cidade de aceitar que, nesses setores, pudesse haver experieÌ‚ncias e matri- zes de outra cultura” (MARTIÌN-BARBERO, 2001, p. 24)
EÌ portanto, na luta por se fazer e se posicionar perto do caÌ‚none da cul- tura pop, que artistas do brega elaboram performances em que reen- cenam clicheÌ‚s midiaÌticos. A ideia de glamour estaria na chave de com- preensão das disputas esteÌticas que parecem permear o universo da muÌsica brega. Na negação ao princiÌpio de “boa muÌsica”, de ideias em torno da qualidade, o brega tenta emular esteÌticas hegemoÌ‚nicas e con- sagradas midiaticamente como tentativa de legitimação e reconfigura- ção de seu lugar nas praÌticas culturais.
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