A imersão televisiva e o retorno da imagem estereoscópica
DOI:
https://doi.org/10.29146/eco-pos.v18i2.1302Resumo
A televisão muda a cada dia suas tecnologias, permitindo novas visualidades e formas de espectatorialidade. Tais mudanças reposicionam a televisão no campo dos estudos da imagem, o que demanda um olhar atento e constante, até mesmo para entender as limitações dessas inovações, se elas podem ser boas ou prejudiciais para o processo comunicativo que a define. Com base em textos de Oliver Grau, Jonathan Crary, Michel Chion, Arlindo Machado e André Bazin, pretende-se neste artigo analisar os potenciais de imersão da imagem televisiva, aproximando-a do estereoscópio e da hipertelevisão.Downloads
Referências
[...] sua imaginação identifica a ideia cinematográfica como uma representação íntegra e total da realidade, está interessada na restituição de uma ilusão perfeita do mundo exterior com o som, a cor e o relevo.
Andre Bazin
A maioria das realidades virtuais vivenciadas de forma quase total veda hermeticamente a percepção das impressões visuais externas do observador, atrai sua atenção com objetos plásticos, expande perspectivas de espaço real no espaço de ilusão, observa a correspondência de cores e escala e, como o panorama, faz uso de efeitos de luz indireta para que a imagem apareça como a fonte do real. A intenção é instalar um mundo artificial que proporcione ao espaço imagético uma totalidade ou, pelo menos, que preencha todo o campo de visão do espectador. (GRAU, 2007, p. 30)
Imerso no campo sensorial predefinido pelo artista, o indivíduo que o experimenta pode criar novos conjuntos de relações significantes. Ele amplia assim o mundo imaginativo que passa a compartilhar. Tem ele, também, a oportunidade de aumentar o seu acervo visual, de desenvolver e organizar o seu raciocínio lógico e analógico e de exercitar a sua criatividade e a sua sensorialidade. Este indivíduo pode mesmo aumentar o potencial de suas múltiplas inteligências, ampliando a sua consciência sígnica. (FRAGA, 1997, p. 123)
Ao contrário da perspectiva renascentista, que implicava um espaço homogêneo e contínuo, a imagem estereoscópica dispõe um campo constituído de elementos desunificados e simplesmente agregados. [...]
Para Crary, a imagem estereoscópica tem também algo de obsceno, no sentido literal do termo. Ao contrário da separação física entre observador e objeto da visão que marcava a experiência da câmara obscura, o estereoscópio as aproxima de forma radical. O próprio funcionamento do estereoscópio depende de uma proximidade máxima entre o olho e a imagem, sem nenhuma mediação entre eles. (MACHADO, 2007, p. 180)
No início do século XIX, a ruptura com os modelos clássicos de visão foi muito mais do que uma simples mudança na aparência das imagens e das obras de arte, ou nas convenções de representação. Ao contrário, ela foi inseparável de uma vasta reorganização do conhecimento e das práticas sociais que, de inúmeras maneiras, modificaram as capacidades produtivas, cognitivas e desejantes do sujeito humano. (CRARY, 2012, p. 13)
Assim como ela é praticada hoje, a RV [realidade virtual] lembra mais o fliperama que a TV. Nós a encontramos nos bares e nos halls de exposição. Não é isso que muda a vida. Mas, no dia em que a realidade virtual tiver invadido os lares como a televisão, ela já terá mudado as bases de nossa psicologia, de nossa vida social e política e, certamente, de nossa economia. Desde o aparecimento da televisão, nosso imaginário interno cessou de se exteriorizar. Ora, se ainda se pode culpar a televisão de ter substituído nosso imaginário privado por um imaginário coletivo, isso não é verdadeiro para as multimídias interativas e realidades virtuais que colocam um imaginário objetivo ao alcance de nossas manipulações. Nas telas da hiper e multimídias, a combinatória plurissensorial que naturalmente nosso cérebro pratica para constituir suas imagens tornou-se possível fora do próprio cérebro. (KERCKHOVE, 1997, p. 50)
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