Entrevista com Mark Deuze
DOI:
https://doi.org/10.29146/eco-pos.v19i1.3354Resumo
As relações entre o indivíduo e a sociedade, e o trabalho realizado por profissionais de mídia em diferentes campos como o jornalismo, a publicidade, os video games, o cinema e a televisão, a música e as indústrias de gravação no contexto das indústrias criativas são os objetos de estudo de interesse na obra de Deuze. Uma das questões teóricas mais relevantes para os estudos de mídia trabalhada por ele refere-se à compreensão de que a vida é vivida na mídia e não com a mídia. O autor acredita que a mídia é a base e o contexto de expressões e experiências de vida na atualidade, a qual permeia todos os aspectos do cotidiano, a partir de seus usos e apropriações pelos cidadãos, uma dinâmica socioeconômica e cultural que tende a produzir o apagamento ou desaparecimento da mídia de nossa consciência. Essa perspectiva proposta por Mark Deuze em Media Life, seu livro mais recente, oferece referenciais teóricos relevantes para refletirmos sobre as relações dos indivíduos, sociedades e setores produtivos estabelecidas na mídia; e também sobre o exercício e o ensino de Jornalismo. Permite superar de alguma forma percepções dos regimes de visibilidade pública dos meios de comunicação apenas como estratégias de redução das necessidades humanas às demandas do mercado sob os interesses políticos dominantes, sugerindo um deslocamento do olhar para interações criativas e críticas que também ocorrem na mídia em práticas profissionais e pedagógicas.
Essa entrevista com Deuze foi realizada em setembro de 2014 no Rio de Janeiro, durante o curso intensivo que ministramos juntos no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da ECO-UFRJ. O principal objetivo do curso foi propor uma reflexão sobre os desafios das pesquisas nesse campo de conhecimento e das práticas profissionais na atualidade, amparada nas dimensões teórico-metodológicas da Comunicação e do Jornalismo. Consideramos que a acelerada circulação de informações através de distintos suportes, a maior participação das audiências, a hibridização de linguagens e a transmidialidade caracterizam os processos de comunicação na atualidade. Discutimos como essas mudanças resultantes da convergência provocam uma reconfiguração nas formas da escrita e da leitura de textos midiáticos, influenciam as maneiras como vivemos na mídia, como as notícias são produzidas e consumidas e como a incorporação das vozes dos cidadãos em conteúdos e formatos jornalísticos é realizada de diferentes formas e níveis de complexidade. Nesse contexto, sugerimos que o futuro do Jornalismo precisa ser discutido como forma de conhecimento. Assim, essa entrevista consiste em uma conversação sobre as atuais interações entre as pessoas, a mídia e o jornalismo e também sobre os desafios da pesquisa, da prática profissional e do ensino da profissão, partilhando questões trabalhadas ao longo do Curso. Afinal, o fato de que as audiências tendem a se tornar cada vez mais fragmentadas e colaborativas e a se servirem de diferentes fontes noticiosas não sustenta, na atualidade, previsões sobre o fim do agendamento. Porém, a mídia não deixa de socializar informações, estimular a formação de culturas políticas e servir como instrumento de ampliação ou restrição do interesse público. Sob essas perspectivas, as contribuições de Mark Deuze apontam novas abordagens possíveis para os estudos de mídia na atualidade e nos permitem fazer uma incursão para além do mundo conhecido do jornalismo.
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